143B
Um ano e meio atrás eu cheguei aqui. Sozinha, depois de um término de relacionamento. Precisava de um papel em branco para começar um novo capítulo.
Quando visitei o 143B, fiquei encantada. A corretora errou o apto que ia me mostrar e entramos por engano no que seria minha futura casa.
O apto bem pequenininho, olhei e pensei “ótimo, só cabe uma pessoa aqui: eu”. Não queria ver ninguém, não queria me envolver com ninguém, mal queria falar.
Quando olhei a vista, não tive dúvidas que seria o respiro que eu precisaria para todos os dias que viriam em seguida.
Aqui se tornou meu lugar de cura. Pode parecer que estou exagerando, mas foi isso mesmo.
Nesse um ano e meio, posso dizer que, fora minha família, recebi pouquíssimas pessoas. O 143B foi meu refúgio do peso que estava, naquela época, enfrentar o dia a dia. Meu retiro de silêncio. Meu encontro comigo. Minha solidão se transformando em solitude aos poucos.
Cada dia que passou, gostei mais da minha companhia. Fui me descobrindo sem pressa.
O 143B viu o que ninguém viu. Me viu chorar pra aliviar a dor e me viu chorar de alegria. Me viu rir de mim mesma diversas vezes. Me viu dançar pra me conectar comigo. Me viu bem loka e bem sóbria. Me viu reconectar com minhas paixões, encher esse lugar de plantas e me sentir cada vez mais feliz com isso. Me mostrou tantos céus lindos. Me deu o horizonte quando parecia não ter saída (descobri o quanto uma vista é importante). Vi o quanto é importante gostarmos de onde moramos.
Depois de tanta coisa, sinto que passei de fase. Sinto que posso seguir sem o 143B (risos). Mas que vou levar esse lugar dentro de mim. É aquela história: o lugar se vai, mas ele já é parte de você, então ele não se vai. Só soma.
Depois de mais de 100 dias praticamente sem sair daqui, consegui perceber qual é a próxima fase que quero experimentar e estou indo até ela. Leve. De coração aberto. Com medo, obviamente. Afinal, é uma nova rotina, uma nova cidade, um novo lugar, uma nova velocidade.
Eu penso em desacelerar.
Se tem algo que essa pandemia horrível me mostrou é que, quando desaceleramos, nos percebemos. E nem sempre gostamos do que vemos porque acostumamos a viver no automático.
Quando desacelerei, a minha rotina me olhou nos olhos e eu corri para minha vista do horizonte. Uma, duas, três, diversas vezes. E o que a minha vista me mostrou é que eu estava pronta para um novo horizonte.
Estamos aqui para sermos felizes. Ser feliz não é um destino. Ok, eu sei que vocês já ouviram falar disso várias vezes, mas já viveram a felicidade como uma soma de agoras? Duvido que ninguém viveu de agoras nesses últimos meses. Mas, e quando você percebe que seus agoras não são momentos felizes, mas sim uma fuga de assumir seus desejos?
Foi isso.
Estou dando um passo em busca da vida que desejo, de agoras que tragam felicidade e, claro, incertezas, medos, alegrias, descobertas.
A vida é isso. É o que dá.
Mas se não tem felicidade no seu agora, mude.
Não de casa.
Meus problemas não vão ficar no 143B. Não sou inocente a esse ponto. Está tudo dentro de mim e não estou fugindo disso. Muito pelo contrário, eu resolvi encarar.
Sinceramente? Não tenho nenhuma certeza do que estou fazendo, mas tenho uma intuição de que é isso que tenho que fazer agora.
Amanhã? Não sei.
Mas vamos combinar? Aprendemos na dor que o amanhã não existe.
E agora?
E O agora?
Obrigada, 143B.