Eu sempre esperei que me salvassem

Karien Petrucci
3 min readJun 16, 2020

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Eu não sei se foram os contos de fada, a cultura do patriarcado, o modelo de criação ou uma pitada de tudo isso, mas eu sempre esperei que alguém chegasse para me salvar.

Não me sentia o suficiente. Na vida mesmo.

Já sentiu isso?

Eu sobrevivia de terceirizar essa função. Uma repetição de padrão.

Freud explica, mas leva tempo.

Eu sempre esperei que a pessoa que estivesse ao meu lado me mostrasse seu mundo para que eu pudesse escapar do meu.

Não acreditava que meu mundo era interessante. Evitava pequenos silêncios. O que dizer?

Mas, para minha surpresa, ninguém me salvou.

De tanto transitar em outros mundos, de repente, me vi sem um pingo de realidade.

O que era meu? O que era eu?

Uma queda em mim sem saber de mim.

E quando parecia que não tinha escolha, escolhi. Comecei a construir tijolo por tijolo o mundo que quero viver.

Comecei pensando nas coisas que sempre mexeram muito comigo. Sabe aquele segundo da sua vida que você pensa: “Eu largaria tudo por isso”? Eu comecei a repassar todos na minha cabeça.

Fiz uma lista e elenquei as coisas mais importantes para mim. Sem julgamentos se era bom ou ruim para alguém. Sem pensar se correspondia ao que pensam de mim.

Eu olhei para as coisas que me movem e resolvi colocá-las em movimento. Tenho tentado apenas alimentar o que alimenta minha alma.

Nesse exercício diário, percebi que as pessoas que mais significaram na minha vida tinham alguns dos traços dessas coisas que listei como: “coisas que me motivam a largar tudo”.

Falo de pessoas que admiro ou admirei. De pessoas que passaram pela minha vida e me despertaram novos olhares. E até de pessoas que sempre olhei com uma certa distância por achar que nunca seria capaz de realizar os mesmos feitos.

Todas essas pessoas eu esperei que me salvassem.

Sabe o que descobri?

Que as coloquei no lugar que eu queria ocupar. Eu as admirava pelo o que eu queria ser, mas achava que era inatingível. Então, ao invés de me colocar lá, eu colocava as outras pessoas para completar essa falta e a sensação de insuficiência.

Óbvio, não deu certo.

Em um insight bem recente (pandêmico, eu diria) peguei um pedaço de papel e escrevi: “parar de ser a coadjuvante e escrever a minha própria história”.

Isso significa ocupar todos os lugares que quero ao invés de colocar alguém lá que não seja eu. Muito menos esperar que alguém mude a minha realidade senão eu.

Tem dado trabalho, mas não há sensação mais gratificante do que a certeza de saber que estou escrevendo a história da minha vida.

Depende de mim não apenas o final feliz, mas o caminho percorrido. O que fiz hoje. Agora.

A decisão é minha: o mundo que construo, o caminho que percorro, o capítulo que escrevo.

Com coragem.

Sem certezas… (quem as tem?)

Sendo assim, apenas o suficiente. Eu me salvo diariamente.

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