Eu tive um sonho…

Noites atrás eu tive um sonho. E esse sonho ficou o dia todo na minha cabeça, coisa que não é comum para mim. Resolvi deixar essa história registrada. Já adianto que, como qualquer sonho, não segue lógica, linearidade ou fará sentido o tempo todo.
O sonho:
A ocasião era uma viagem de final de semana que eu estava fazendo com uma amiga. Tinha arrumado minha mala pensando nos looks que poderia usar por dia imaginando a programação que poderíamos ter. Chegamos no lugar onde ficaríamos hospedadas. Tinha um clima pousada de praia, mas eu não vi a praia, era uma sensação. E tinha uma rua. A rua tinha um estilo urbano, São Paulo, bem movimentada. No final dela, tinha um semáfaro onde os carros paravam esperando o sinal ficar verde para continuarem o trajeto. Eu atravesso a rua e quando chego do outro lado, estou em frente a um prédio, entro como se fosse um lugar já conhecido e nesse prédio morava meu namorado. Na casa dele, estava ele e um amigo. (Eu não lembro do rosto de ninguém envolvido no sonho).
Meu namorado me deu a notícia de que naquele dia tinha um casamento pra gente ir, que ele tinha acabado de ficar sabendo. Eu fiquei agitada e dizia que não tinha levado roupa para ir a um casamento porque não estava na programação.
Ele e minha amiga me deram a ideia de usar um vestido de festa da minha sogra que morava ali também (a sogra não aparece no sonho, só sei que ela existia). Eu experimentei o vestido, que era azul, cheio de brilhos, tomara-que-caia e modelo sereia. Fechava nas costas com um zíper. O vestido ficou lindo, mas não tinha nada a ver comigo. Mas como ficou bem bonito, resolvi aceitar ir com ele ao casamento. Mas, agora, eu tinha um novo problema: sapatos para usar com o vestido. Eu calço 39 e na história da minha vida é raro encontrar mulheres que calcem o mesmo, geralmente seus pés são menores, então eu não tinha alguém para pegar um sapato emprestado. Mas, incentivada pela minha amiga, meu namorado e seu amigo, eu falei: “tá bom, eu vou dar um jeito de arrumar um sapato que combina com o vestido.”
A partir desse momento, começou um movimento no sonho onde eu atravessava aquela rua várias vezes. Eu lembro de estar sempre despistando essas pessoas (amiga, namorado e amigo) porque eu não tinha a resposta de como eu ia achar um sapato que combinasse com aquele vestido. E então eu atravessava a rua me escondendo dessas pessoas porque eu não sabia o que fazer. Eles atravessavam para um lado. Eu ia para o outro. Nessas travessias da rua, entre o lugar que eu estava hospedada e esse prédio onde era a casa do meu namorado, sempre acontecia alguma coisa. Ou estava muito trânsito e eu tinha que andar entre os carros; outra, vez enquanto atravessava, dois carros bateram na minha frente — lembro de ter me certificado se tinha alguma vítima grave, não parecia ter e já tinham pessoas ajudando, segui atravessando a rua.
Em um determinado momento, eu desisto de ficar despistando as pessoas e paro de um dos lados da rua, fico na casa do meu namorado sabendo que era só questão de tempo para eles aparecerem ali. Estava deitada nesse quarto que era uma cama de casal, móveis meio anos 80/90.
Eles me encontraram meio preocupados: “Onde você estava? Te procuramos por toda a parte. Precisamos nos arrumar para ir ao casamento senão vamos nos atrasar.”
Foi quando eu revelei que não tinha encontrado o sapato para usar com aquele vestido e então não iria com eles. Eles falaram: “não liga pra isso, coloca o sapato que você trouxe, ninguém vai reparar, o vestido vai cobrir.”
Me encorajei novamento e fui então experimentar o vestido mais uma vez para começar a me arrumar. O vestido agora não cabia mais em mim, o zíper não fechava por completo nas costas, ficava na metade. A sensação era que eu tinha engordado do momento que experimentei o vestido pela primeira vez até esse momento e agora aquele vestido não cabia mais em mim. Não foi agradável a sensação do vestido não caber em mim, principalmente pela ideia de eu ter engordado para ele não caber mais. Ao mesmo tempo tinha uma sensação de certo alívio porque realmente aquele vestido não tinha nada a ver comigo.
Então, desisti de vez do casamento e falei para que eles seguissem para a festa sem mim.
Nisso, essas três pessoas — minha amiga, meu namorado e seu amigo — falaram que era para eu ir com a minha roupa mesmo, com a roupa que eu tinha trazido na mala. O importante era eu ir, não importava com que roupa. E que eu estava linda de qualquer jeito. Me senti muito amada e acolhida nesse momento. E aceitei a proposta.
Atravessei a rua para o lugar onde minha mala estava para me trocar, lembro de já estarmos muito atrasados para o casamento. O sonho termina comigo tirando da minha mala a roupa que eu tinha levado, era uma mini saia de couro preta. E eu ia vestir ela com uma meia calça preta e uma bota. E eu estava aliviada por poder ir com a minha própria roupa, a roupa que cabia em mim, a roupa que eu me sentia confortável mesmo que distoasse dos outros para a ocasião.
Fim de sonho.
Esse foi o sonho que não saiu da minha cabeça durante o dia todo. A noite, eu repassei ele em voz alta comigo mesma e tive alguns insights. O que veio de mais importante na minha cabeça foram questões, muitas questões, essas questões:
- Quantas vezes eu aceitei caber onde eu não cabia?
- Quantas vezes eu deixei que outras pessoas escolhessem por mim? E não eram quaisquer pessoas, eram pessoas que se importavam comigo.
- Por que eu usaria esse vestido que eu não queria? Sim, estava lindo sim, mas não tinha nada a ver comigo.
- E por que ao invés de encarar o problema dos sapatos logo de cara, eu fugi do problema? “Eu vou dar um jeito”.
- E o que todos esses percalços, acasos, acidentes apareceram nessas travessia todas da rua?
- Por que eu tive que engordar para não caber no vestido? Algo que não me provocava uma boa sensação, mas parecia ser a saída para não usar aquele vestido.
- Por que tive que fazer “mal” a mim mesma para poder conseguir falar que essa não sou eu; esse vestido não tem nada a ver comigo; não vou com esse vestido; não tenho sapatos.
- Por que o vestido era da minha sogra? !!!
- E, por fim, não uma questão, mas uma boa sensação de que no momento em que eu me mostrei intimamente para essas pessoas que eu confiava, quando eu mostrei minha insegurança e meu medo, eles estiveram do meu lado me encorajando a não desistir, e ir vestida de mim mesma. Com a minha própria roupa. Do jeito que me sinto confortável e segura, mesmo não sendo o look esperado para um casamento, o importante era eu ir.
- E outra boa sensação de alívio por poder ir com a minha própria roupa. Segura de mim.
Loucura, né?
Fiquei pensando que é a história da minha vida resumida em um sonho maluco.
E eu consigo indentificar que estou no momento onde finalmente revelo a todos que não tenho o sapato “adequado” para usar com aquele vestido e que o vestido não cabe mais em mim. Não adianta insistir, não cabe mais. Até coube por um momento. E ficou bonito. Mas não cabe mais.
O que me resta agora? Atravessar aquela rua para me vestir com as minhas próprias roupas.
E seguir firme como eu sou, mesmo que isso seja um pouco diferente do que todos esperam para a “ocasião vida”. Sempre haverão pessoas importantes na minha vida me encorajando a dar o próximo passo, só que para isso acontecer, primeiro eu preciso falar e não engolir tudo; porque dane-se se eu vou de mini saia de couro preta, meia calça preta e bota em um casamento rs… desde que eu esteja me sentindo bem. E, talvez o mais importante, eu sou amável como eu sou. Sem precisar tentar caber onde não dá mais.
Bom, acho que eu tenho uma rua para atravessar.
Nos vemos na festa.