Indiferença é zona de conforto

Se existe algo que temos vivenciado ultimamente é a ideia da indiferença.
Tudo que não se parece conosco, que está fora da nossa forma de vida ou gosto, tudo que não se integra muito bem aos nossos valores é colocado em uma zona de indiferença.
Não suportamos o estranhamento, então anestesiamos de nós algumas pessoas e formas diferentes de vida.
A indiferença torna-se não apenas um efeito de distanciamento, não apenas uma incapacidade que temos de pensar o outro, mas um enfrentamento de nossos conflitos a partir do método da esquiva.
Preferimos transformar a realidade ao invés de transformarmos a nós mesmos.
Porém, quando fazemos a escolha de invisibilizar o outro montando muros que nos distanciam e criando uma espécie de filtro do que queremos ver, no fundo, estamos negando a nossa diferença com o outro e nos mantendo em uma zona de conforto onde essa diferença está administrada.
Acabamos vivendo uma vida onde sabemos mais ou menos o que esperar.
A indiferença funciona como uma defesa para aquilo que o outro evoca em nós como algo que não conseguimos admitir, nem reconhecer, nem lidar, nem gostar.
Nesse processo, vamos nos inflando de nós mesmos e diminuindo o nosso mundo.
E a cultura da indiferença cresce. Indiferença ao sofrimento do outro, indiferença à demanda do outro, indiferença às opiniões políticas do outro…
Como resultado, criamos uma bolha de iguais sustentada pelos nossos próprios valores e identidade. Vivemos uma espécie de patologia social em que, para compensar a recusa, é preciso erguer mais instrumentos de silenciamento ao outro.
Em verdade, isso é um empobrecimentos de nós mesmos. Um espaço que vai ficando menor e menor para que tenha o mesmo registro de conforto e identidade.
Indivíduos que não saem de seus próprios espelhos.
Para sair dessa cultura da indiferença é preciso se interessar pelo outro, se expor a conflitos e à diversidade.
A exposição à diferença nos enriquece, produz novas formas de falar, produz novas formas de olhar o mundo, produz outras perspectivas, produz outras viagens.
Uma saída de nossas próprias casas. De nossos próprios muros. De nossos próprios espelhos.
Uma saída da nossa zona de conforto.