Quanto custa?

Karien Petrucci
4 min readJul 1, 2024

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texto escrito dia 14 de maio de 2024

Qual o preço que pagamos por tentar seguir por fora de um sistema que não concordamos?

Eu estava olhando os stories do instagram deitada aqui no meu sofá.

Em 30 minutos (poderia dizer 10, mas o tempo passa que a gente nem vê quando entramos nesse lugar sem fim) eu chorei vendo a tragédia do Rio Grande do Sul e todo deja vu que isso provoca em mim.

Eu sei e sinto o que está acontecendo e percebo que é em uma escala muito maior do que a que eu vivi e, de verdade, pessoal? É a população pela população, não tem muita saída nesse mundo.

Marcas, marketing e políticos aparecem quando convém, para tirar aquela foto que vai fazer uma chamada para vários cliques.

Isso é outra coisa: a mídia tradicional, de massa, não relata a verdade.

Não dá pra acreditar em tudo o que se vê. Não dá para esquecer que o jornalismo de massa também é movido por dinheiro de patrocínios.

Não, eles não tem a vontade de contar a real, mas eles tem o poder de diceminar o que é real ou não PARA ELES.

Fiquemos atentos a isso.

Bom, dentro dessa meia hora também sorri vendo memes de cachorros e gatos. E pensando:

-“Que lugar eu estou que me abala mais ver um animal sofrer do que ver um ser humano sofrer — desde que não seja uma criança?”

-“Não é uma loucura pensar assim?”, pensei eu.

E realmente não acho tão normal não, mas minha decepção com os meus semelhantes é tanta que eu sigo assim, preferindo os animais às pessoas.

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Nesse tempo de stories e mais stories eu também me senti muito diminuída ao ver a “aparente” a felicidade de algumas pessoas. Me deu aquela sensação horrível que faz você se questionar se está na trilha certa mesmo sabendo que não há certo ou errado e que, sim, existe um sistema.

Um sistema por trás disso tudo.

A vida não pára para socorrer o Rio Grande do Sul, apesar de eu achar que deveria.

Sim, eu tenho esses sonhos impossíveis.

Quanta hipocrisia!

A minha.

Enquanto eu via pessoas e animais morrerem afogados e alagados, eu também vi a entrega de um evento enorme que eu planejei para uma das maiores empresas de defensores (risos ou melhor → kkkrying) agrícolas do mundo onde estavam reunidos os maiores produtores agrícolas do país!

O PIB!!!

E que é um dos setores mais responsável pela tragédia que eu estou vendo acontecer. Vocês não tem noção da ambivalência de sentimentos que faz parte do meu cérebro agora. Eu não posso parar, eu tenho contas para pagar, eu tenho projetos para entregar, eu tenho uma carreira que me trouxe até aqui no meu sofá confortável.

Como eu saio desse sistema?

Eu fui resgatando os outros clientes que atendi recentemente e falo pra vocês que não me causa muito orgulho: uma das maiores indústrias farmacêuticas do Brasil e mundo, a maior instituição bancária do Brasil, uma montadora de automóveis de luxo para bilionários, a maior indústria alimentícia do mundooo (leia-se industrializados, ultra processados…), ou seja, eu fomento esse sistema que ao mesmo tempo me dá náuseas, entendem?

Eu estou dentro dessa roda. Mesmo não sendo a pessoa que mais está dentro, ou mais está correndo na rodinha, eu ainda estou. Isso me angustia demais.

E é isso, as mídias sociais não fazem nada do que aumentar tudo isso. Dar voz a maior parte de coisas inúteis, de trazer o neoliberalismo para seu ápice e a depressão também. Que loucura é essa? Onde a gente se meteu?

E aí eu fiz o que? Desativei meu instagram temporariamente. HA HA HA Bela maneira de não encarar a realidade, não?

Mas, falando sério, quanto tempo do meu dia eu perco vendo um espelho de mim mesma feito pela curadoria de um algoritmo que é criado para me fazer sentir insatisfeita com a vida que eu levo e, então, consumir.

Consumir produtos, informação, tempo, comentários, reels que resultam em uma angústia onde quem é consumida sou eu.

Eu escrevo, e não necessariamente obtenho respostas, mas definitivamente evoluo minhas perguntas.

Estou aqui olhando um post it que escrevi ontem para me lembrar que a vida não é 8 ou 80, mas sim passo a passo.

Porém minha indignação não se contenta com o morninho. E essa semana estou em fúria.

É tudo muito triste de um lado e tudo muito falso de outro. Essa vida que vemos nas redes sociais e noticiários é 8 ou 80.

Tudo imediato.

E tudo passa numa velocidade que também não condiz com a sua gravidade.

Realmente me sinto perdida no tempo e espaço dos dias atuais. E custa caro, no sentido amplo, questionar tudo isso.

E custa ainda mais caro não questionar e aceitar.

Viver não tá barato.

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