Tempo, tempo, tempo…
Uma pergunta-provocação (ou que provoque uma ação): Você sente que vive no tempo do mundo ou que algo te escapa o tempo todo?
Sempre correndo.
Sempre acelerando para entrar no tempo do contemporâneo.
Quando paro para refletir, penso: “meu tempo é outro”.
O outro do meu tempo não é exatamente o cronológico.
Aceito a cronologia, mas não consigo encarar a vida com tal linearidade.
Na obviedade da linearidade, sempre dei um jeitinho de escapar. Nem sempre de forma doce. Às vezes foi de supetão mesmo, metendo o pé na porta implorando para entrar no meu tempo.
Sempre ouvindo: “Se você quer algo precisa correr atrás”.
E respondendo (mesmo que mentalmente): “Precisa mesmo correr? Posso andar? Posso parar para descansar só um pouquinho?”
Esse tempo do mundo que pede uma aceleração da nossa experiência temporal acaba causando uma perda do valor da experiência.
Quando desacelera, por exemplo em uma pandemia, o que nos sobra é um certo estado depressivo com uma sensação geral de que está tudo meio sem sentido.
Vivendo em uma metrópole, que já foi até (re)conhecida um dia por nunca parar, chegamos a um ponto de traçar uma relação com o tempo que parece banal.
Sempre ouvindo: “tempo é dinheiro”.
E respondendo (mesmo que mentalmente): “Tempo não é dinheiro, isso é uma brutalidade”.
Tempo é tudo o que temos. É o que tece nossas vidas.
Nossa vida é feita só de tempo. E o resto, é o que fazemos com ele.
A perspectiva do tempo transforma as coisas. A ideia de que nós no tempo somos capazes de transformar as coisas, ajuda a suportar os momentos de angústia, de terror, de nada, de vazio, de desânimo… porque acreditamos que com o tempo vai melhorar.
O tempo é um percurso entre um passado recente e um futuro que somos capazes de representar a partir de um encadeamento de ideias, de representações, de fantasias.
Tempo é o sistema que permite viver no mundo.
Com o tempo, aparamos nossas percepções e devolvemos reações. Mas para isso, é preciso ter tempo para perceber e reagir aos estímulos. Ou então, seguimos no automático da velocidade e da linearidade imposta pelo tempo contemporâneo sem nos questionarmos se esse é o nosso tempo.
Todas as vezes que sinto que me perco no tempo da sociedade, observo o tempo das plantas. Não há como antecipar o prazo ali. Precisa semear, crescer, florescer, dar frutos… no tempo delas. Que é coerente para elas. Isso me inspira a achar meu próprio tempo de florescer.
Como já dizia Caetano: “Tempo, tempo, tempo… és um dos deuses mais lindos”.
E você? Como anda sua relação com o tempo?