Uma despedida pode ser um reencontro

Karien Petrucci
3 min readApr 7, 2019

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Eu acreditei em você, mas não foi à primeira vista.

Também não foi à segunda, quando saímos para tomar uma cerveja até nos embebedarmos e diminuir a vergonha e os embaraços de um segundo encontro.

Preciso dizer que também não foi naquele dia em que tentamos fazer um pão de azeitona que nunca deu certo como pão, mas que possivelmente deu certo como pretexto de dois estarem juntos por um tempo.

E nem foi quando abrimos um vinho rosé na praia com a chave do carro e inventamos de jogar o jogo das perguntas sinceras, choramos e comemos pizza.

Também não foi quando assistimos o campeonato de cliff diving. Eu sei que o mundo parou naquele dia e parecia o esporte mais relevante do universo. Até escolhemos nossos lugares VIP nos barcos e poderia ter sido um ótimo momento para eu acreditar em todas as suas intenções, mas não, não foi ali.

Demorei todo esse tempo para me abrir, porque minha história recente antes de você me fez criar tantas armaduras que nem todos esses momentos foram suficientes para que eu as tirasse de mim.

Me desarmar significava ficar exposta demais, vulnerável demais e, talvez, você nunca tenha percebido, mas eu ainda estava me reconstruindo naquela época.

O tempo passou e outros momentos se somaram.

A vontade de não querer ficar longe começou a derreter essa armadura que me distanciava de você. Um aço até então bastante resistente.

E foi quando senti sua falta em uma noite rodeada de amigos que comecei a acreditar em você.

Mas mais que isso, comecei a acreditar que era você.
Uma visão que hoje penso ser bastante romantizada de minha parte.

Tirei minhas armaduras.
Todas elas.
E olhando para você, ao invés de ameaças à minha paz, eu via possibilidades infinitas de felicidade. E todo dia uma nova descoberta.

Passei a acreditar nessa verdade idealizada pela paixão.

Fechei tantas vezes os olhos para aproveitar os frios na barriga, os abraços demorados, os beijos apaixonados, os finais de semana que começavam na quarta-feira até um momento que não consegui mais abri-los.

Sinto que me ceguei.

Um tipo de cegueira seletiva. Daquelas que você vê tudo, mas escolhe em que acreditar.

Eu não deixei de ver, mas abri mão de enxergar.

Não quis enxergar todas as vezes que você me sinalizou a efemeridade com que leva a vida e o quanto isso lhe dá prazer.

Não abri os olhos para todas as vezes que você ameaçou ir embora. E quantas de fato foi.

Preferi não ver os pequenos toques que você me deu sobre o que não gostava no meu jeito de ser.

Eu deixei passar situações com as quais não concordava apenas por não querer criar atrito.

E compreendi que naquele momento em que acreditei, acreditei demais em você e desacreditei de mim.

Coloquei de lado quem eu sou, minhas vontades e meus desejos.

Parei de me olhar, parei de me amar e comecei a me comparar. E não há nada mais nocivo para a saúde que a comparação.

Nunca me senti o suficiente. E me frustrei vezes seguidas tentando ser quem não sou.

Me perdi.

E, com muita clareza, hoje digo que não devia ter me importado tanto em satisfazer desejos que não são meus o quanto me importei.

Não sou como você sonhou? Uma pena, mas o sonho não é meu.

E se você também me idealizou por quem não sou, só posso dizer que entendo e sinto muito.

Quando nos distanciamos por um longo período de quem somos, a vida nos cobra. E ela costuma cobrar caro.

O meu boleto chegou.

Eu que sou tão organizada com minhas contas a pagar, me vi sem fundos para arcar com essa dívida.

Estou vivendo de empréstimos.

A minha sorte é que tenho credibilidade na praça. Um dia eu empresto um abraço, outro dia uma conversa amiga. Muitas vezes, mesmo sem pedir, alguém me empresta um ombro amigo.

Que sorte a minha!

Estou vivendo do trabalho que é levantar todos os dias para pagar as contas dos momentos que me ausentei de mim.

Luto.

Luto todos os dias para zerar essa dívida e amenizar as consequência de minhas últimas escolhas.

Para, finalmente, voltar a acreditar.

Mas dessa vez, em mim.

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