Vai passar

As horas passam, os dias passam. O sentimento não.
No máximo, ameniza. Adormece. E fica a esperança que se transforme.
Se transforme em força. Se transforme em coragem. Se transforme em passado. Mas sem ser esse passado que, como dizia Mario Quintana, não reconhece seu lugar e está sempre presente.
Faz-se planos. Dividi-se uma vida. Às vezes até o mesmo teto.
Compartilha o que há no coração. A tristeza. A alegria. O bom e o mau humor. Deixa escapar uma fraqueza, depois outra e outra. Ao mesmo tempo, mostra-se forte nas situações mais adversas.
Um conselho prático e racional em um dia. Uma lágrima de cansaço no outro.
Um abraço. Um beijo. Um colo. Palavras que confortam. Ou apenas o silêncio que deixa ser.
Uma construção. De dias, meses, anos.
Intimidade. Vulnerabilidade. Transparência. Amor.
E, de repente, o que parecia ir ganhando forma se desmonta.
Falta entendimento. Falta empatia.
Sobram dúvidas.
Era tudo mentira? Era tudo fingimento? Encenação?
Para onde foi o amor e o companheirismo que pareciam existir?
Uma construção sobre um terreno arenoso. Uma casa em ruínas. Rachaduras ignoradas.
Aprende-se que para algumas pessoas é mais fácil ir embora. É mais fácil se afastar. Essa é a razão pela qual as pessoas vão.
E não há o que fazer por você. Ou por mim. Ou por eles.
As pessoas vão embora. Porque para ficar é preciso coragem.
Acredite, é preciso coragem e é mais difícil do que parece.
Coragem para fazer as coisas darem certo.
Coragem de ser autêntico e verdadeiro com alguém que realmente queira estar junto e viver um amor.
Então, muitos optam pelo caminho fácil. O atalho.
Esse é o mundo em que vivemos.
Algumas pessoas tem a coragem de ir embora, mas raramente encontramos alguém com coragem suficiente de ficar. Alguém com coragem suficiente para lutar por uma chance de construir algo.
É triste. Um mundo frio. Sim, é.
E, assim como quem parte, tudo passa. Mas primeiro te atropela.